Um projeto de pesquisa agroalimentar coordenado pela Embrapa Alimentos e Territórios (AL) e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está transformando comunidades rurais no Semiárido nordestino. A partir da valorização da cultura alimentar e do turismo sustentável de base comunitária, a iniciativa contribuiu para estruturar seis rotas turísticas com potencial de geração de renda, fortalecer o protagonismo e autonomia de mulheres e jovens e preservar os saberes tradicionais.
Com atuação em cinco territórios nos estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe, o projeto batizado de Paisagens Alimentares envolveu diretamente mais de 500 participantes, com impacto estimado em mais de cinco mil pessoas da região. A proposta parte de um conceito simples, mas poderoso: alimentos carregam histórias, identidades e modos de vida, e podem se tornar o eixo de experiências turísticas autênticas e sustentáveis.
A partir de diagnósticos participativos, oficinas, intercâmbios e imersões, o projeto consolidou o conceito de Paisagens Alimentares como espaços geográficos que conectam biodiversidade, produção agroalimentar, história dos alimentos e cultura local. A ideia central é permitir que a história de um território seja contada e valorizada por meio de seus sabores, saberes e práticas cotidianas.
“O Paisagens Alimentares trouxe um despertar: fez a gente perceber o valor do conhecimento local e da força que temos enquanto rede de mulheres”, conta Anatália Costa Neta, da Associação das Mulheres Empoderadas de Terra Caída, em Indiaroba (SE). “Ele abriu portas para a autonomia financeira, para mudanças de hábitos e, principalmente, para o fortalecimento da autoestima dessas mulheres”, ressalta
(veja mais depoimentos no quadro abaixo).
Segundo o analista de inovação da Embrapa Aluísio Goulart, que coordena o projeto, as paisagens alimentares revelam a multifuncionalidade da agricultura. “Além de produzir alimentos, elas constroem vínculos sociais, preservam a natureza e resguardam o patrimônio cultural de comunidades guardiãs da sociobiodiversidade”, afirma. “Integrado a esse processo, o turismo de base comunitária surge como estratégia de geração de renda, autoestima e pertencimento”.
Cinco territórios nordestinos e mais de 5 mil pessoas impactadas
Entre as mais de 500 pessoas diretamente envolvidas nas atividades estão agricultores familiares, marisqueiras, quilombolas, catadoras de mangaba, pescadores, jovens e lideranças comunitárias. O impacto indireto ultrapassa cinco mil pessoas, considerando familiares, consumidores, fornecedores, prestadores de serviços e demais atores das cadeias produtivas locais.
Apenas em Sergipe, estima-se que 2.800 pessoas tenham sido beneficiadas. Em Pernambuco, o número chega a 1.200. Em Alagoas, mais de mil pessoas foram impactadas. As rotas estruturadas evidenciam ingredientes locais, tradições culinárias e paisagens culturais, permitindo que turistas vivenciem de perto o cotidiano destas comunidades.
De acordo com os cálculos do projeto, em um cenário moderado de 100 visitantes por mês por território, com gasto médio de R$ 200 por pessoa, a renda anual pode chegar a R$240 mil por território, totalizando R$ 1,44 milhão anuais nos seis municípios. Se houver maior estruturação e divulgação das rotas, esse número pode ultrapassar esses valores, tornando o turismo de base comunitária uma alternativa concreta de inclusão socioprodutiva e desenvolvimento sustentável.